Página 10 - JORNAL-INATEL-5

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Prof. Baratella, à
esquerda, morou
na república
mais de oito anos
10
lupa
REPÚBLICA: A CASA QUE ENSINA
E
las estão espalhadas por toda a
cidade (são pelo menos 30). As
repúblicas se tornam as casas
de milhares de jovens que esco-
lhem Santa Rita do Sapucaí para estu-
dar. E quanta história cada uma delas
tem... A Canadura completa 30 anos em
2012. Atualmente 13 jovens moram na
casa de sete quartos. E existem regras.
“Os quartos são divididos para ter inte-
gração, não temTV nos quartos para que
todos assistam juntos na sala e respeito
não pode faltar”, dizVinícius Matioli, es-
tudante de Engenharia da Computação,
morador da Canadura há três anos.
A administração da casa também é
dividida entre os moradores. Três pesso-
as cuidam do caixa, de receber o dinhei-
ro, pagar as contas, fazer a compra do
mês. Mas a cada semana um morador
compra frutas, carnes e legumes. Para
cuidar da limpeza e da alimentação,
duas funcionárias trabalham diariamen-
te. Maria José Palmiro está há sete anos
na república. “É como se eles fossem
meus filhos, eles me respeitam, mas dou
bronca quando precisa”.
Os recém-chegados têm regras espe-
cíficas, como fazer o café cedo para to-
dos os moradores. O calouro Everson de
Oliveira Silva saiu de Bom Repouso para
estudar no Inatel e escolheu a Canadu-
ra como moradia. “Nunca tinha morado
fora. A gente aprende a fazer as coisas,
a compartilhar”, conta.
Engana-se quem pensa que quando
se formam os ex-moradores esquecem
a república. Eles visitam a antiga mo-
radia e se reúnem uma vez por ano na
festa conhecida como Canasia, realizada
em maio durante a Festa de Santa Rita.
“Para esse ano a festa será especial em
comemoração aos 30 anos da Canadu-
ra”, conta o estudante Pedro Pacheco.
Um ex-morador que sempre volta à república é o professor do Inatel, Alexandre
Baratella Lugli, o Durok (apelido dado na república). Ele chegou à Canadura aos 15
anos, quando era estudante da Escola Técnica de Eletrônica, e ficou até se formar
no Inatel, oito anos e meio depois. “Acredito que se tenho um ótimo convívio com
a minha esposa e família, devo isso à família Canadura. Lá, com certeza, formei
irmãos para o resto de minha vida. Morar com 12 pessoas, de diferentes culturas e
regiões do país é bem difícil. Sempre havia conflitos, mas todos eram sempre bem
resolvidos”, relembra o professor.
Os ex-moradores da república Barril também participam da antiga casa, que
existe há quase 16 anos. “Já passaram muitos moradores e a maioria hoje trabalha
em grandes empresas, o que nos fornece um bom networking na hora de procurar
estágios e empregos”, conta Braian Natan, que mora na Barril há um ano e meio.
A república também tem regras e até “período de experiência” para um novo mo-
rador. “Ele fica seis meses em teste para ver se acostuma e se os outros moradores
também o aceitam”, afirma o estudante Luiz Rebartini, há quatro anos na república.
Um quadro na copa da casa é uma atração à parte. Além de servir como auxílio na
hora dos estudos, nele está uma das principais regras da Barril. “Quem faz sujeira,
bagunça e desperdiça água ou luz leva um ponto. Cada ponto é uma cerveja que o
morador tem que pagar”. Claro, tem gente devendo mais de uma caixa.
Para o presidente do DiretórioAcadêmico, Túlio Rodrigues, morador da Barril, o
estudante que decide morar em alguma república tem uma grande oportunidade.
“Ele aprende a respeitar a opinião e o espaço de cada pessoa. Isso vai refletir no
mercado de trabalho”. E não é preciso esperar o curso acabar para perceber esse
aprendizado. “Com a regra dos pontos no quadro, quando chego à casa dos meus
pais eu lavo a louça que sujo. Responsabilidade e organização mudaram muito”,
afirma Luiz Rebartini.
Com a palavra...
“Depois das comemorações,
da integração com novos colegas,
a preocupação do calouro que vai
morar longe de casa agora é outra:
começar uma nova etapa dividin-
do a casa com pessoas desconhe-
cidas. Vem a necessidade de cons-
truir novas relações de intimidade,
exigindo adaptações e isso pode
ser completamente diferente de
estudante para estudante.
O importante para uma adap-
tação mais rápida é que saibam
estabelecer critérios para a con-
vivência, lembrando que o que é
combinado não é caro. Essa con-
vivência provoca, sem dúvida, o
amadurecimento, o companhei-
rismo, o respeito pelas diferenças
depois da adaptação. No início
tentam repetir o que faziam em
casa, mas logo percebem que não
é possível e que morar longe
dos pais, com ausência das co-
branças típicas tem um preço
– amadurecer, andar pelas pró-
prias pernas. Por outro lado, é
provável que se juntem e se cui-
demmutuamente.
É uma experiência enriquece-
dora e pode contribuir para tor-
ná-los mais fortes e capazes de
enfrentar a vida.”
Elza Maria Corrêa - psicóloga do Núcleo de Orientações Educacionais (NOE) do Inatel
Moradores
da república
Barril
República Canadura:
30 anos de muita história
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