TV 3.0: a transformação da televisão aberta no Brasil

A televisão é, historicamente, o principal meio de comunicação de massa no Brasil. A mudança do sinal analógico para o digital começou em 2007 e foi concluída em 2025. Durante esse período, o formato recebeu atualizações significativas. Agora, mesmo antes do encerramento definitivo desse ciclo, um novo passo está sendo preparado com a chegada da TV 3.0 ou DTV+: uma evolução que promete transformar profundamente a forma como o conteúdo é transmitido, consumido e monetizado.

Apesar do nome sugerir uma inovação recente, a TV 3.0 já está presente em outros países há algum tempo. Na Coreia do Sul, a implementação começou em 2017 como preparação para os Jogos Olímpicos de Inverno do ano seguinte. Nos Estados Unidos, mais de 50% da população já tinha acesso ao novo padrão em 2019. O Brasil iniciou suas chamadas técnicas em 2020, com testes conduzidos por empresas e instituições de pesquisa, e nos últimos anos vem avançando na padronização nacional. Emissoras como a TV Globo já realizam testes com a tecnologia, e a previsão é que a adoção em escala nacional ocorra a partir de 2026.

A proposta da DTV+ é atualizar a televisão aberta com tecnologias que garantem qualidade de imagem superior, interatividade e conectividade com os novos hábitos digitais dos usuários. A experiência do espectador deixa de ser apenas passiva. Com recursos como transmissão em 4K, 8K, HDR e interatividade em tempo real, o modelo aproxima-se da lógica das plataformas de streaming e das lojas virtuais, mas mantendo a essência da TV aberta: o acesso gratuito e de ampla cobertura.

Entre os avanços, está o conceito de interatividade. O espectador, ao assistir a um programa, poderá interagir diretamente com o conteúdo exibido. Por exemplo, ao ver um participante de um reality show utilizando determinada peça de roupa ou utensílio doméstico, será possível realizar a compra daquele item em tempo real, direto pela televisão. Isso abre caminho para a integração entre conteúdo, publicidade e e-commerce, criando novas formas de monetização para emissoras e marcas.

Com a TV 3.0 o espectador poderá interagir diretamente com o conteúdo exibido

A TV 3.0 também incorpora o chamado data casting, que permite transmitir dados junto ao sinal de vídeo. Essa funcionalidade amplia o uso da infraestrutura de broadcast para aplicações como atualização de sistemas, envio de arquivos e outras formas de comunicação digital. Isso transforma a TV em um canal de serviços, com potencial para usos educacionais, emergenciais e comerciais, principalmente em regiões com baixa conectividade de internet.

Inovação tecnológica e inclusão digital com a TV 3.0 no Brasil

Do ponto de vista técnico, a nova geração traz mudanças significativas. Um dos avanços mais relevantes está na codificação de dados, com a adoção da técnica LDPC (Low-Density Parity-Check), que aprimora a correção de erros e garante maior estabilidade na recepção do sinal. A tecnologia também introduz o conceito de múltiplos tipos de camada física, os PLPs (Physical Layer Pipes), que possibilitam compatibilidade com diferentes tipos de dispositivos e cenários, desde televisores em ambientes internos até equipamentos móveis.

Outro destaque está no padrão brasileiro, que se diferencia de outros modelos internacionais. No caso nacional, está previsto que os televisores passem a contar com antenas embutidas, eliminando a necessidade de instalações externas e facilitando a recepção do sinal mesmo em locais de difícil acesso. Esse aspecto é especialmente importante em um país com grande diversidade geográfica e altos índices de desigualdade no acesso à infraestrutura digital.

A TV 3.0 é um passo importante para o futuro da comunicação no Brasil.

Além da tecnologia, é preciso considerar o impacto social. A TV aberta segue sendo o principal canal de acesso à informação e ao entretenimento em diversas regiões do país. Segundo dados da PNAD Contínua 2023 do IBGE, 88% dos domicílios com televisão no Brasil, o equivalente a 65 milhões de lares, recebem sinal de TV aberta por antena convencional. Em muitos locais, ela chega onde o celular e a internet ainda não alcançam. Por isso, mais do que uma inovação tecnológica, a DTV+ é também uma estratégia de inclusão digital e fortalecimento de um meio essencial para a comunicação pública.

Essa transformação da televisão aberta no Brasil ainda carrega um papel econômico estratégico. O novo modelo cria oportunidades para desenvolvedores de software de soluções, fabricantes de equipamentos, agências de publicidade, startups e varejo digital. Ao transformar a televisão em um ambiente interativo e conectado, o ecossistema de radiodifusão brasileiro se reposiciona como um vetor relevante de inovação, geração de dados e novos modelos de negócio.

Outro fator importante é a adaptação do mercado ao consumidor. A popularização da TV 3.0 depende da disponibilidade de aparelhos compatíveis e de políticas públicas que incentivem o acesso a essa tecnologia, especialmente em famílias de baixa renda. O processo exige articulação entre governo, indústria e setor acadêmico. O Inatel, por exemplo, participa ativamente de fóruns de pesquisa e desenvolvimento para garantir que essa tecnologia seja adequada à realidade nacional e que o Brasil avance com autonomia tecnológica.

A televisão está se reinventando mais uma vez. Se antes ela evoluiu para digitalizar a imagem e melhorar a transmissão, agora ela se prepara para ser uma plataforma interativa, integrada e orientada à experiência do usuário. A TV 3.0 não é apenas uma atualização técnica, mas uma reconfiguração do papel da TV aberta em um ecossistema digital, e um passo importante para o futuro da comunicação no Brasil.

 

O Inatel tem atuação histórica no desenvolvimento da televisão digital no Brasil, com participação ativa nas pesquisas que originaram o padrão nacional, inspirado no modelo japonês, nos anos 2000. Hoje, continua sendo referência em testes, desenvolvimento de hardware e software e na execução de projetos de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação (PD&I) voltados ao setor de broadcast. Com sua estrutura de laboratórios e equipes especializadas, o Instituto apoia empresas em todo o país na criação de soluções tecnológicas sob medida para os desafios da nova geração da TV aberta. Saiba mais aqui.