'Fomos pioneiros', diz engenheiro sobre os 50 anos do Inatel em MG

12Andando pelos corredores do Instituto Nacional de Telecomunicações (Inatel), em Santa Rita do Sapucaí (MG), o engenheiro aposentado Marcos Aurélio de Freitas, de 70 anos, emociona-se. "Eu sinto muito orgulho. Fomos pioneiros. Meu filho estudou aqui."

10Há 50 anos, o jovem de 19 anos chegava de Cachoeiro do Itapemirim (ES) para apostar seu futuro em uma escola recém-criada em meio a fazendas de gado e café. Mas as lágrimas que hoje tomam conta dos olhos quando Marcos Aurélio relembra o período estão longe de serem saudosistas.

auditoria_22_06_09.jpg'Fomos pioneiros', diz Freitas, 70 anos (Foto: Daniela Ayres/ G1)Das aulas improvisadas no Tiro de Guerra, em 1965, a instituição se transformou em um importante centro de desenvolvimento tecnológico do país, influenciando diretamente no crescimento da cidade onde foi instalada, que passou de menos de 20 mil habitantes para mais de 40 mil.

"Santa Rita do Sapucaí não tinha nada na época. Hoje tem mais de 100 empresas e tornou-se uma cidade tecnológica", diz o engenheiro. "E o que o Brasil tem de telecomunicações se deve ao Inatel."

De Santa Rita do Sapucaí para o Brasil
"O Inatel foi concebido com a ideia de que, para o país desenvolver, era preciso investir em telecomunicações. Não havia nada semelhante em toda a América Latina. Os engenheiros formados aqui tiveram a responsabilidade de viabilizar, por exemplo, o sistema de chamadas à distância da telefonia, o DDD", conta um dos professores do instituto, Navantino Dionízio Barbosa Filho, de 67 anos.


Segundo Navantino, as ligações à distâncias no país foram viabilizadas pelos engenheiros do Inatel (Foto: Daniela Ayres/ G1)Navantino chegou ao curso de engenharia de telecomunicações três anos depois de sua fundação, quando as aulas passaram para um antigo internato, ampliado mais tarde para comportar o atual instituto. Lá, o mineiro de Miraí encontrou a profissão, a esposa e pôde estar próximo dos principais avanços do setor.

"Nossos engenheiros cuidaram da chegada do sinal de televisão ao Sul de Minas e da incorporação da nova tecnologia de TV digital no país", exemplifica. "Temos pesquisadores trabalhando na chamada internet das coisas (que permite o controle à distância de diversos equipamentos de uso diário, como luzes e eletrodomésticos), prestando consultoria a empresas do Brasil e do mundo na área tecnológica."

Do Brasil para o mundo

Nesta terça-feira (31), o Inatel celebrou cinco décadas de uma história que já extrapola as fronteiras do país. Entre um prédio e outro, bandeiras de pelo menos 12 países tremulam, revelando as características globais que o conhecimento desenvolvido ali conquistou.

Com nacionalidades como Alemanha, Portugal, Irlanda, Inglaterra, Chile e Estados Unidos foram firmados convênios que permitem a troca de experiências entre estudantes. "Temos hoje 70 alunos que estudam ou fazem estágio profissional aqui em diversas modalidades de intercâmbio", explica Leonardo Maia, que desde 2010 cuida do escritório internacional do instituto.

Em laboratórios do Inatel, funcionam empresas que prestam consultorias em todas as partes do mundo (Foto: Daniela Ayres/ G1)

"Estamos em um processo de internacionalização que permite uma troca de aprendizado de valores culturais. Pra se ter uma ideia, um conhecimento da Alemanha, na Europa, vem para o Brasil, na América Latina, e é partilhado, por exemplo, com Angola, na África. A educação tem que ser global, principalmente na área de tecnologia", observa Maia.

Desenvolvimento de instituto ajudou no crescimento da cidade (Foto: Arquivo Inatel)E é assim que o engenheiro de computação Jonas Vilasboas Moreira, de 29 anos, se sente. "Eu comecei aqui como estudante em um projeto social do instituto, a Casa Viva, me tornei voluntário do projeto, fui contratado como monitor, me formei e conquistei meu trabalho aqui e hoje lido com questões de moradores da Suécia", conta Jonas.

Um dos gerentes de software de uma empresa terceirizada da Ericsson, que funciona dentro do Inatel, Moreira é exemplo de como o instituto se tornou importante também para a cidade onde nasceu. "Santa Rita do Sapucaí cresceu muito com o resultado das empresas que saíram daqui e pelas oportunidades que o Inatel gera. Eu mesmo não teria como estudar se não tivesse conseguido uma bolsa e um trabalho."


Em laboratórios do Inatel, funcionam empresas que prestam consultorias em todas as partes do mundo (Foto: Daniela Ayres/ G1)

Educação que traz desenvolvimento

Enquanto o Inatel ampliou os cursos para sete graduações, cinco especializações e mais de 30 laboratórios, Santa Rita do Sapucaídesenvolveu um mercado tecnológico atualmente formado por cerca de 150 empresas, 90% das quais criadas dentro do instituto, de acordo com o Sindvel, sindicato local da indústria e do comércio. Ainda segundo o órgão, essas empresas correspondem a R$ 1,5 bilhão do faturamento anual da cidade.

Fonte: G1 Sul de Minas