Na última semana, o Inatel sediou a 2ª reunião plenária do 5G Range, projeto que tem como foco a criação de soluções práticas para o acesso à internet em áreas remotas e rurais, fruto da cooperação entre instituições brasileiras e europeias. Os pesquisadores que integram o grupo de trabalho do projeto compartilharam os resultados obtidos em suas pesquisas e foram avaliados por uma comissão de especialistas. Também foi realizada uma demonstração das soluções desenvolvidas no Inatel, que estão permitindo levar internet a uma escola rural de Santa Rita do Sapucaí. Foi a primeira vez que os pesquisadores e avaliadores puderam ver a pesquisa sendo colocada em prática.
O projeto, que teve início em dezembro de 2017, já havia passado por uma revisão em setembro do ano passado, na qual a principal exigência foi a reestruturação do seu plano de negócios. Segundo o professor do Inatel, Luciano Leonel Mendes, que é coordenador técnico do 5G Range, a reformulação foi feita com o apoio da Telefônica da Espanha. “Apresentamos um plano de negócios baseado em micro-operadoras rurais, onde a estrutura que estamos criando seria implantada por um micro-operador, que alugaria o equipamento para as grandes operadoras oferecerem o sinal em áreas remotas”, explica.
Ainda de acordo com o professor, houve evolução também na parte técnica do projeto. “Evoluímos com o transceptor para redes 5G, incorporando uma série de novas funcionalidades que culminaram na demonstração que fizemos na escola. Os próximos passos são adicionar a cognição ao rádio, ou seja, a inteligência para que ele ajuste os parâmetros de forma autônoma, sem a necessidade de um operador; criar mais acessos, para que mais de um terminal possa se conectar a rede ao mesmo tempo e incluir o cenário de IoT, em grande escala”.
Este cenário de IoT também foi demonstrado na escola rural, onde foi criada uma horta inteligente, cuja irrigação pode ser controlada por meio de um aplicativo de celular, que também mostra dados relacionados à umidade do solo para acompanhamento da evolução das hortaliças.
Para a professora da Universidade de Brasília, Priscila Solís Barreto, coordenadora do projeto 5G Range do lado brasileiro, as demonstrações permitiram aos participantes entender o impacto do projeto e foi um elemento de motivação para todos. “A partir do momento em que você leva o acesso à internet para as áreas rurais, você abre um mundo de possibilidades. A gente viu aqui um exemplo de impacto na educação, que talvez seja o mais importante, permitindo levar um mundo novo a crianças e adolescentes. Por outro lado, há outras inúmeras aplicações possíveis, como na agricultura inteligente, na assistência à saúde remota, uma série de coisas que vão permitir a melhoria da qualidade de vida das pessoas”, afirmou.
Na avaliação do professor da Universidade Carlos III de Madrid, Marcelo Bagnulo, coordenador do projeto do lado europeu, a reunião no Inatel deixou claro de que se trata de um projeto de muito êxito. “Os revisores, tanto brasileiros quanto europeus, pareceram muito contentes com os resultados e impressionados com a tecnologia que estamos desenvolvendo, como a que pode ser vista na escola rural”, destacou.
Impacto Social
Desde o início do ano, os alunos da Escola Municipal Mariquinha Capistrano passaram a ter acesso à internet proporcionado pelas pesquisas do Inatel. Isso tem permitido aos alunos retomarem as aulas de informática, que haviam parado por falta de infraestrutura na localidade. “Ficamos muito surpresos quando o Inatel nos escolheu para testar a tecnologia desenvolvida para o 5G aqui. Tínhamos os computadores, mas não tínhamos sinal de internet. As crianças que estudam na escola são de famílias muito humildes e não têm acesso em casa. Com a internet, eles descobriram outro mundo, outra realidade. Isso tem ajudado muito no desenvolvimento deles”, conta a coordenadora pedagógica da escola Mônica Rosário.
Sobre o 5G Range
O projeto 5G-RANGE – Remote area Access Network for 5th Generation tem por objetivo promover e propor soluções práticas para o acesso à internet em áreas remotas e rurais. O projeto foi aprovado pela Chamada Coordenada Brasil-União Europeia em Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), realizada pela Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP) em parceria com a Comissão Europeia. Além do Inatel, integram o consórcio multidisciplinar o Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPqD), a unidade brasileira da empresa Ericsson e as universidades de Brasília (UnB), de São Paulo (USP) e Federal do Ceará (UFC). Já pelo lado europeu, a parceria envolve a companhia espanhola Telefónica e as universidades Carlos III de Madrid, na Espanha, de Oulu, na Finlândia, e Tecnológica de Dresden, na Alemanha.