Por Guilherme Marcondes, Vice-diretor e Pró-diretor de Graduação do Instituto Nacional de Telecomunicações - Inatel.
O mercado de tecnologia vive em transformação contínua. Nos próximos anos, essa dinâmica se acelerará ainda mais com o avanço em pesquisas para tecnologias emergentes, como as Redes 6G, e a crescente interdependência entre software e automação.
Nesse cenário, a formação de novos profissionais se torna cada vez mais desafiadora e exige uma abordagem renovada para capacitar talentos a lidarem com as inovações que estarão na base da sociedade e da economia digital.
Aprender a aprender: a habilidade fundamental
Um dos maiores desafios para os futuros profissionais de Tecnologia da Informação e Comunicação (TIC) é a necessidade de adaptação rápida e contínua. Essa capacidade, muitas vezes chamada de "aprender a aprender", nunca foi tão importante.
Em um ambiente em que o conhecimento da tecnologia tem uma vida útil curta, é essencial que os profissionais se tornem aprendizes ágeis. O domínio das competências técnicas básicas, como linguagens de programação e sistemas de comunicação digital, é só o começo. Mais do que nunca, a habilidade de adquirir novos conhecimentos e aplicá-los rapidamente diferencia os profissionais que prosperam dos que ficam para trás.
Além disso, com o avanço da Inteligência Artificial (IA) e a facilidade de acesso a grandes volumes de dados, a análise crítica se torna imprescindível. Profissionais capacitados para questionar, validar e interpretar informações terão uma vantagem significativa em um mercado em que a precisão e a confiabilidade das decisões podem ser determinantes para o sucesso de projetos e organizações.
Soft skills e a nova realidade do trabalho
A experiência remota, que se intensificou nos últimos anos, trouxe novas demandas. Os profissionais precisam desenvolver competências relacionais que transcendem as interações presenciais, como a percepção da linguagem corporal e a habilidade de comunicação eficiente em ambientes digitais.
Essa necessidade é reforçada pela tendência de se trabalhar cada vez mais em equipes globais e em tempo real, o que exige adaptação a diferentes culturas e a novos formatos de colaboração.
Adicionalmente, o fortalecimento da diversidade se tornou um tema essencial nas discussões sobre o futuro do trabalho. Empresas têm investido para ampliar o acesso a profissionais de diferentes origens, o que promove equipes mais inclusivas e cria um ambiente fértil para a inovação. Essa diversidade cultural e de perspectivas, aliada ao desenvolvimento de soft skills, é fundamental para profissionais que buscam se destacar no mercado.
Escassez de talentos e desafios na formação
Apesar das mudanças em andamento, o Brasil ainda enfrenta uma lacuna significativa de profissionais qualificados. Segundo a pesquisa “Demanda de Talentos em TIC e Estratégia Σ TCEM”, divulgada em dezembro de 2021 pela Associação das Empresas de Tecnologia da Informação e Comunicação e de Tecnologias Digitais (Brascom), o país tem um déficit de 500 mil profissionais na área de tecnologia da informação até o ano que vem (2025).
Quando se ampliam os dados para incluir outras áreas tecnológicas, como a automação industrial, a realidade se mostra ainda mais alarmante. Esse cenário aponta para uma necessidade urgente de fortalecer o ensino fundamental e médio com uma base tecnológica que reflita a realidade do mercado.
O exemplo do Inatel demonstra como a educação pode agir para diminuir essa lacuna. A taxa média de empregabilidade de seus egressos entre 2021 e 2024 manteve-se em quase 90%, mesmo com variações nas demandas do mercado. Esses dados reforçam a importância de uma formação direcionada e alinhada com as necessidades tecnológicas contemporâneas.
Caminhos para o futuro: o que as empresas esperam dos profissionais de tecnologia
Diante de um cenário de rápida transformação, as empresas buscam profissionais que, além de qualificação técnica, apresentem um perfil voltado para a inovação e a capacidade de se adaptar. As tendências indicam que a integração entre habilidades digitais e uma sólida compreensão de sistemas de comunicação e automação será de grande importância. A convergência entre redes sem fio e óticas, por exemplo, representa um campo em expansão que exigirá conhecimento tanto em programação quanto em novas tecnologias de transmissão e recepção de dados.
Para jovens que estão ingressando nesse mercado, investir nas engenharias ligadas às tecnologias da informação são caminhos promissores, especialmente em um mundo onde a conectividade e o uso intensivo de dados são protagonistas.
Preparação e resiliência para um futuro em constante mudança
A formação do profissional de tecnologia está cada vez mais interligada à capacidade de adaptação e ao aprendizado contínuo. Em um contexto em que o conhecimento técnico e as habilidades pessoais andam lado a lado, tanto Instituições de Ensino quanto empresas precisam estar preparadas para apoiar a transformação desses talentos em agentes de inovação e competitividade.
Em resumo, o futuro do profissional de tecnologia exige uma combinação de competências técnicas, análise crítica e soft skills robustas. Aqueles que conseguirem alinhar esses aspectos estarão mais bem posicionados para atender às demandas de um mercado em constante evolução e contribuir para o avanço da economia digital.