O impacto revolucionário do 6G, a próxima geração de redes móveis

Por Henry Rodrigues, Gerente Executivo do Centro de Competência Embrapii Inatel em Redes 5G e 6G - xGMobile no Inatel.

 

Embora o 5G ainda esteja em fase de implantação e evolução tecnológica, a comunidade científica e a indústria de telecomunicações já estão com os olhos voltados para a próxima geração de redes móveis, o 6G, previsto para ser lançado comercialmente em 2030. Mais do que uma simples evolução, essa nova geração de conectividade promete responder às crescentes demandas de uma sociedade cada vez mais imersa em um mundo digital, com novos cenários de uso.

 

Mas por que agora?

Segundo dados do GSMA Intelligence, a tecnologia 5G apresentou uma penetração de mercado mais rápida do que às anteriores, 4G LTE e 3G, conforme figura abaixo.

Em contraste com essa velocidade de penetração, até o momento, o investimento feito pelas operadoras que implantaram redes 5G ainda não foi recuperado. A alta relação entre o custo de implantação e o faturamento de uma rede 5G, em comparação com as tecnologias anteriores, contribui para esse cenário conforme tabela abaixo.

Portanto, as operadoras ainda não estão e não estarão atentas ao 6G, até que o investimento do 5G seja recuperado.

Contudo, o desenvolvimento do 6G é inevitável e está sendo feito pela indústria e centros de pesquisa, pois as tecnologias precisam evoluir para atender novos cenários de uso, possibilitados por novas tecnologias habilitadoras. Historicamente, uma nova geração de redes móveis surge a cada década, permitindo que as inovações amadureçam e estejam prontas para o mercado.

Adicionalmente, a maturidade de uma geração de rede móvel é atingida a cada duas gerações. O 1G proporcionou a chamada de voz móvel, mas somente no 2G esse serviço se tornou digital e criptografado. O 3G se propôs a fazer comunicação de dados, mas a internet se tornou rápida somente no 4G. E, apesar dos avanços do 5G, como velocidades ultra rápidas, baixa latência e a conexão de bilhões de dispositivos ao mesmo tempo, ele ainda apresenta limitações. O 5G não conseguiu atingir a latência de 1ms de ponta a ponta e deixou a desejar em cenários como a conectividade em áreas remotas. O 6G surge com o potencial de amadurecer a tecnologia, superando essas lacunas do 5G.

 

Foco na nova era da conectividade

Na fase atual de pesquisa, existem diferentes visões sobre como serão as redes 6G. Na visão proposta pelo IMT (Draft IMT Framework for 2030 and beyond), o novo padrão de comunicação é projetado para não apenas aprimorar os cenários de uso propostos pela tecnologia anterior, mas possibilitar novas aplicações, conforme visão proposta na figura abaixo.

  • Comunicação e Sensoriamento integrados — observar os sinais de RF existentes que são transmitidos, refletidos no ambiente e recebidos, para inferir informações do ambiente;
  • Conectividade Ubíqua — conectividade em qualquer lugar do planeta a partir de redes não terrestres, seja pelo uso de satélites geoestacionários, de média órbita, baixa órbita ou high altitude platform stations (HAPS);
  • Comunicação e IA — o uso de Inteligência Artificial (IA) acontecerá em todas as camadas da rede de forma autônoma, assim como a própria infraestrutura da rede será disponibilizada para aplicações de IA com computação de borda.

O sensoriamento por sinais de rádio criará o conceito de Network-as-a-Sensor, em que sinais de rádio já existentes serão usados para monitorar e interpretar o ambiente ao seu redor dos dispositivos que irradiam os sinais. Será possível detectar a presença e posição relativa de pessoas e objetos, inferir imagens em terceira dimensão e até mesmo monitorar sinais vitais, como batimentos cardíacos e respiração, tudo isso por meio da observação dos sinais de rádio refletidos. Essa capacidade abrirá caminho para a criação de zonas seguras invisíveis e sistemas de segurança avançados que poderão prevenir acidentes e proteger as pessoas de forma mais eficaz.

 

A Internet dos Sentidos

O desenvolvimento de um conjunto de tecnologias imersivas está em rota de fusão com as redes 6G. Enquanto as telecomunicações entre pessoas se limitam atualmente na transmissão de imagens e sons, a chamada "Internet dos Sentidos” permitirá que, além da visão e audição, os demais sentidos humanos sejam explorados, tais como a transmissão do tato, paladar e olfato. Isso significa que experiências virtuais se tornarão mais imersivas e realistas. Por exemplo, imagine uma experiência de realidade virtual em que o usuário visita o estádio Camp Nou, em Barcelona, e possa não somente tocar e sentir o gramado, mas também sentir o cheiro da grama recém-aguada.

 

A integração dos mundos

Outra característica da futura rede é sua capacidade de integrar completamente os mundos físico, digital e biológico. No aspecto físico, dispositivos conectados e sensores estarão presentes em todos os lugares, coletando dados em tempo real sobre o ambiente e os comportamentos humanos. Esses dados serão, então, processados no mundo digital, onde algoritmos de IA transformarão essas informações em insights acionáveis.

No entanto, será o campo biológico que realmente definirá essa nova tecnologia como uma revolução. Com a incorporação de dispositivos biomédicos e sensores vestíveis, será possível interagir diretamente com o corpo humano, monitorando sua saúde e desempenho em tempo real. Isso permitirá, por exemplo, que médicos acompanhem remotamente os sinais vitais de pacientes e intervenham antes que uma situação crítica ocorra.

Essa integração dos três mundos não apenas transformará a maneira como interagimos com a tecnologia, mas também moldará a sociedade na totalidade. As cidades, por exemplo, poderão ter gêmeos digitais, réplicas virtuais que auxiliam na gestão urbana, planejamento e desenvolvimento sustentável. As interações remotas se tornarão mais naturais e intuitivas, permitindo que pessoas se comuniquem como se estivessem fisicamente presentes, mesmo a quilômetros de distância.

A próxima geração de conectividade não será apenas uma evolução do que conhecemos hoje, mas uma transformação que promete mudar completamente a maneira como vivemos, trabalhamos e nos conectamos. A promessa vai além da simples comunicação; trata-se de construir um futuro onde a tecnologia e a humanidade se entrelaçam de forma harmoniosa, criando experiências que hoje parecem saídas de ficção científica, mas que em breve serão uma realidade palpável.

Enquanto o 5G foi amplamente focado em atender demandas empresariais e setores industriais, o 6G representa uma tecnologia no qual o usuário final, ou seja, o consumidor, está no centro das atenções.

 

 

O Centro de Competência EMBRAPII Inatel em Redes 5G e 6G - xGMobile tem o objetivo de promover o avanço tecnológico das telecomunicações no Brasil, desenvolvendo e integrando as mais recentes inovações em redes móveis. Saiba mais sobre o xGMobile aqui.

 

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