No Brasil, a palavra Resiliência e seus significados ainda permanecem desconhecidos para a maioria das pessoas. A noção de resiliência vem sendo utilizada há muito tempo pela Física e Engenharia e um de seus precursores foi o cientista inglês Thomas Young. Em 1807, Young descrevia experimentos sobre tensão e compressão de barras buscando a relação entre a força que era aplicada num corpo e a deformação que essa força produzia (YUNES, 2003; KOLLER, 1999).
Um exemplo de resiliência, na ciência, é quando há a deformação de materiais causada pela produção de uma força e depois disso, este material tem a tendência de retornar ao seu estado original. Com o ser humano em situações de adversidades, ou outras situações de tristeza, perdas, sofrimentos em geral, acontece uma "deformação" emocional, em que muitas pessoas, após estes eventos, retornam ao seu estado original, com alegria e fortalecidos. Esta é a relação da resiliência da Física com a resiliência voltada para os seres humanos.
A definição da resiliência pode ser entendida como a capacidade de renascer da adversidade, estando fortalecido e com mais recursos pessoais para manter a superação do problema. É um processo ativo de reestruturação e crescimento em resposta à crise e ao desafio. As qualidades da resiliência permitem às pessoas se curarem de feridas dolorosas, assumirem suas vidas e irem em frente para viver e amar plenamente (Walsh, 2005).
Porém, a resiliência não deve ser interpretada como simplesmente mover-se com facilidade durante uma crise, intocado pela experiência dolorosa, ou seja, falar para si ou pra o outro, o famoso: "isso não é nada", negando o desafio a ser enfrentado.
Muitas culturas negam suas perdas, possuem intolerância ao sofrimento, desviam o olhar da incapacidade, evitando o contato com os desfavorecidos e distribuem conselhos joviais para as pessoas, com a intenção de animá-las após eventos catastróficos ou, simplesmente, desvalorizam crises nacionais ou pessoais passadas, sem olhar para trás e delas extrair significados, enfrentá-las e buscar a cura. A resiliência envolve "lutar bem", experimentar ao mesmo tempo sofrimento e coragem, enfrentar eficientemente as dificuldades.
Podemos descrever exemplos de resiliência, como a história real de Vitor Frankl, citada por Lizete Barlach (2005). Vitor Frankl faz uma reflexão sobre a sua vida nos campos de concentração nazista, onde sobreviveu no aspecto da adversidade extrema e adquiriu papel de conselheiro perante os outros prisioneiros. Frankl procurava identificar o sentido da vida como um fator de proteção, com base no amor, na crença no futuro, no humor e na superação. Em sua descrição, o escritor deixa a posição de vítima da situação e se envolve em um projeto pessoal e interno de superação, passando a escrever as notas daquilo que se tornaria posteriormente o livro, bem como das aulas que daria na universidade, apresentando a teoria que ele intitula Logoterapia, ou seja, a Terapia do Sentido da Vida, técnica utilizada atualmente na Psicologia.
Há também a história do cartunista Ricardo Ferraz (2006), deficiente físico, que utilizou sua própria deficiência, a paraplegia, em um trabalho de destaque, buscando a cidadania por meio da confecção de cartuns para vários jornais do país e para uma emissora de televisão. Com seu trabalho, ele colaborou denunciando erros estruturais (arquitetônicos) e de condutas, proporcionado uma nova visão do deficiente para a sociedade, não mais como uma vítima do destino, dependente e sem um futuro promissor, mas como um indivíduo que tem capacidade e competência para gerir a sua própria vida e também contribuir para a sociedade.
Pessoas não nascem resilientes, mas desenvolvem a resiliência no decorrer da vida, da luta diária. Resiliência é diferente do pensamento positivo, que prevê somente bons resultados, sem nos preparar para os possíveis entraves do caminhar da vida. A pessoa resiliente está preparada para as situações desfavoráveis sem perder a força da luta e dos desafios que a vida impõe.
E você como reage às situações da vida?