Desastres de natureza humana ou natural, quando não são devidamente monitorados e alertados, cobram um preço alto em vidas humanas. As tragédias de Mariana e Brumadinho tiveram um impacto terrível na vida de milhares de pessoas aqui no Brasil. Um deslizamento do vulcão Anak Krakatoa, ocorrido em dezembro de 2018, resultou em um tsunami que chegou sem aviso no litoral de das ilhas de Sumatra e Java, causando centenas de mortes e deixando um número muito maior de feridos. Apesar das naturezas completamente distintas destas tragédias, há um fator comum a elas: a falta de alarmes que pudessem avisar os habitantes do perigo iminente.

 

Hoje em dia é comum vermos diversas inovações, como a Internet das Coisas e a rede 5G, sendo desenvolvidas para viabilizar novas aplicações. Carros autônomos, redes móveis ultrarrápidas, automatização industrial (a chamada indústria 4.0) e fazendas inteligentes são alguns exemplos do que essas novas tecnologias irão permitir num futuro próximo.

 

Mas a rede 5G, associada com a Internet das Coisas, pode também trazer diversos benefícios na prevenção e alerta de desastres. Um dos cenários de aplicação para as futuras redes móveis, denominado de 5G para as áreas remotas, prevê um aumento significativo da cobertura em regiões hoje desprovidas de conectividade. Com essa infraestrutura de comunicação disponível, sensores capazes de medir abalos sísmicos, níveis pluviométricos, temperatura e outros dados ambientais, poderão ser instalados em locais de risco, visando o monitoramento destas regiões através de centrais autônomas. O tratamento de dados provenientes de várias fontes de informação pode gerar alertas em diferentes níveis para as autoridades, permitindo ações para evitar a tragédia ou para minimizar o impacto na vida das pessoas. Em casos de desastres eminentes, o sistema de monitoramento autônomo pode inclusive ser empregado para emitir alertas diretamente para as pessoas vivendo na área sob ameaça, dando a oportunidade para todos saírem da zona de perigo a tempo.

 

Sistemas de monitoramento de desastres já existem hoje em dia. No entanto, essas soluções tipicamente requerem uma rede dedicada e uma equipe para o acompanhamento e avaliação dos eventos reportados pelos sensores. Em áreas remotas, a completa falta de cobertura ou o alto custo de comunicação das atuais redes sem fio inviabilizam a implementação efetiva de um sistema de alarme. Com a rede 5G para áreas remotas, as informações sobre as condições ambientais de uma dada área de risco podem ser transmitidas para o núcleo da rede 5G, onde algoritmos de inteligência artificial irão processá-las e disparar os alarmes e alertas, eliminando a necessidade de recursos humanos e promovendo a redução do custo de operação. Em situações onde o tempo de resposta da rede deve ser muito baixo, em função da perigosidade do sistema monitorado ou em função da rápida evolução do cenário de catástrofe, a tecnologia de fog networking pode ser empregada para executar o serviço de monitoramento na própria estação radiobase, reduzindo a latência do sistema.

 

Estes exemplos mostram que a futura rede 5G tem potencial de beneficiar a segurança pública ao viabilizar novos sistemas de monitoramento ambiental a um custo viável para áreas remotas. E isso pode causar uma revolução neste serviço, de modo que as tragédias como a de Brumadinho e Mariana não ocorram novamente.  

Luciano Leonel Mendes
Luciano Leonel MendesProfessor
Doutor em Engenharia Elétrica pela Unicamp, integrou importantes estudos na área de TV Digital, sistema de recepção e antenas inteligentes. Atualmente suas pesquisas estão voltadas à comunicação digital e soluções para a camada física do 5G. É também professor titular da graduação, pós-graduação e mestrado, alé de coordenador do curso de Mestrado do Inatel