O advento das redes 5G irá causar impactos em diversos aspectos do nosso dia-a-dia. A futura rede móvel irá afetar a forma como nós comunicamos, distribuímos e recebemos nossos conteúdos digitais, controlamos nossa casa, carro e computadores e também da forma como cuidamos do nosso bem-estar.

 

A integração do 5G com a Internet das Coisas (do inglês, IoT – Internet of Things) é uma etapa natural que irá potencializar os benefícios da rede móvel. Com o IoT, diversos dispositivos que nos cercam estarão conectados na Internet, enviando e recebendo dados à revelia dos usuários. Esse volume massivo de informações será computado para determinar os perfis e comportamento das pessoas, podendo ser usados para diferentes fins. O processamento massivo destes dados para obtenção de informações úteis recebe o nome de Big Data Analytics e pode ser usado para prever variações de trânsito em Smart Cities, padrão de consumo de serviços, levantamento de perfil médio de consumidores, resultados estatísticos em pesquisas na área da saúde, tendências no mercado de ações, operações criminosas, entre outas situações.

 

O 5G-IoT é uma fonte de dados de grande relevância para as empresas especializadas no processamento dessas informações. Mas a coleta de tantos dados referentes ao nosso cotidiano levanta dúvidas sobre segurança e privacidade. Hoje há uma grande discussão entre os pesquisadores sobre como manter segura as comunicações desse volume massivo de dados. E essa preocupação é procedente. Estamos vivendo uma verdadeira epidemia de fraudes e furtos de informações digitais, com pesadas consequências para a população. De ataques às empresas ao furto de informações de cartão de crédito, o uso indevido de dados digitais gera prejuízos que chegam à casa dos bilhões de reais todos os anos. Com uma quantidade de dados cada vez maior circulando, há um crescimento proporcional dos riscos.

 

A boa notícia é que o próprio advento do IoT integrado ao 5G traz novas formas de prover segurança à informação. Os chamados wearables, que são objetos como óculos, vestimentas, sapatos e relógios dotados de sensores e sistemas de comunicação, permitem a coleta de um grande número de dados de biometria, que podem ser utilizados no processo de autenticação. O uso de tecnologias como software defined network irá permitir a descentralização das aplicações de segurança, dificultando os ataques. Grandes avanços na área de segurança estão sendo obtidos para evitar fraudes e o furto de informações dos usuários nas futuras redes 5G, mas os usuários devem manter os cuidados de sempre e evitar o uso da mesma senha em diferentes plataformas, além de manter protegidas as suas informações de nome de usuário (login) e senha.

O furto de informações de acesso é também um grande risco à privacidade. Mas existe outro fator de risco para a privacidade dos usuários que não advém de fraude, mas sim de descuido, que é aceitação incondicional de acesso aos dados particulares ao se assinar serviços digitais. É comum as pessoas esbarrem com termos de contrato ao utilizarem serviços digitais como contas de e-mail, redes sociais, fóruns, entre outros, que possuem cláusulas que colocam em risco a privacidade e o direito aos dados dos usuários. Ao aceitar estes termos sem a devida atenção aos detalhes, as pessoas podem estar cedendo o direito ao seu conteúdo digital (fotos e vídeos, por exemplo) e dando acesso aos seus dados pessoais, autorizando o seu uso para fins comerciais. Isso pode levar a situações indesejadas, como o recebimento de spam e propagandas. Por exemplo, permitir que uma dada aplicação tenha acesso a sua localização abre a possibilidade para que os seus dados sejam entregues para agências de propagandas que vão enviar mensagens ou notificações relacionadas com o lugar onde a pessoa se encontra. É preciso estar ciente das condições impostas para a utilização dos serviços digitais e de como as empresas podem empregar os dados cedidos pelo usuário ao aceitar os termos dos contratos digitais. Com o advento do IoT e o consequente aumento das informações pessoais que estarão disponíveis na nuvem, esse cuidado deve ser redobrado. Então, é melhor ler com cuidado antes de clicar nos botões “Aceitar” e “Continuar” para ter certeza de que está de acordo com a forma como seus dados e seus conteúdos digitais serão utilizados.

Luciano Leonel Mendes
Luciano Leonel MendesProfessor
Doutor em Engenharia Elétrica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), é coordenador de Pesquisa do Centro de Referência em Radiocomunicações (CRR). É professor titular da graduação, pós-graduação e mestrado do Inatel. Integrou importantes pesquisas na área de TV Digital, sistema de recepção e antenas inteligentes e atualmente suas pesquisas estão voltadas à comunicação digital e soluções para a camada física do 5G.