O futuro da saúde: convergência entre medicina e engenharia

Historicamente, médicos e engenheiros trilharam caminhos paralelos, cada um focado em seu campo de expertise. No entanto, com o avanço da tecnologia, essas trajetórias começaram a se cruzar de forma significativa. Hoje, vemos uma colaboração cada vez mais estreita entre essas duas profissões, levando a inovações que estão moldando os rumos do futuro na medicina e dos cuidados da saúde.

Muitas das tecnologias emergentes atuam diretamente para o diagnóstico, tratamento e prevenção de doenças, soluções desenvolvidas por engenheiros com um profundo conhecimento do corpo humano, suas fragilidades e necessidades. A engenharia aproxima-se da medicina e, por força de Lei, é obrigatória no Brasil dentro de hospitais, clínicas e locais que operam equipamentos técnicos complexos.

A convergência de tecnologias como inteligência artificial (IA), Internet das Coisas (IoT), big data, impressão 3D, robótica e realidade aumentada está remodelando os paradigmas médicos tradicionais. Esta nova era promete uma medicina mais eficiente, precisa e personalizada, onde o papel do médico não é apenas curar, mas também integrar e aplicar essas tecnologias avançadas no cuidado e na inclusão de pacientes.

Testemunhamos um tempo único na história, em que a chegada de inovações às prateleiras para o consumidor, simultaneamente são aplicadas para a medicina. Como dispositivos vestíveis e smartwatches, que entraram no mercado como equipamentos fitness, mas já monitoram a saúde de pacientes em tempo real. Ou ainda a impressão 3D, tão importante para a indústria e que possibilita a criação de próteses, implantes e até órgãos sob medida para os pacientes.

Recentemente, a Engenheira Biomédica, formada no Instituto Nacional de Telecomunicações, e coordenadora de projetos do eHealth do Instituto, Rita Elizabeth Santos de Almeida, venceu um concurso nacional com seu projeto de uma mão robótica controlada por eletromiografia. Uma criação que proporciona maior acessibilidade a próteses biônicas e melhora a qualidade de vida dos usuários. 

 

Engenheiro 4.0 vs. Médico 4.0

Assim como os engenheiros 4.0, que utilizam essas mesmas tecnologias para inovar em áreas como indústria, energia e telecomunicações, os médicos do futuro precisarão dominar essas ferramentas para oferecer o melhor cuidado possível. O engenheiro 4.0 desenvolve soluções tecnológicas, integra sistemas inteligentes e aplica conceitos de IA e IoT para melhorar processos e produtos, enquanto o médico 4.0 utiliza essas inovações para diagnosticar e tratar pacientes de forma mais eficaz, integrando dados complexos e IA em sua prática diária.

Cada vez mais, os médicos terão acesso a uma quantidade sem precedentes de dados sobre a saúde dos pacientes e saber como utilizar essas informações para aprimorar diagnósticos e tratamentos será essencial. A capacidade de identificar tendências e padrões, a partir de grandes conjuntos de dados permitirá aos médicos não apenas tratar doenças, mas também preveni-las de maneira mais eficaz.

A Inteligência Artificial, por exemplo, auxilia médicos, técnicos e especialistas em diagnósticos e tratamentos de doenças a partir de algoritmos, que analisam grandes volumes de dados, identificam padrões sutis e preveem diagnósticos com precisão. Imagine um sistema que pode detectar o câncer em seus estágios iniciais ou personalizar tratamentos com base no perfil genético do paciente. Isso já é realidade e promete transformar a prática médica.

No Inatel, uma das pesquisas de Mestrado do Laboratório IoT Group, realizada pelo aluno Mateus Raimundo da Cruz, analisa chapas de Raio-X, detecta e fornece diagnósticos, com base nos dados armazenados e históricos dos pacientes.

No entanto, o impacto dessas tecnologias vai além da simples adoção de novas ferramentas. A medicina do futuro também desafiará o paradigma médico, especialmente na relação médico-paciente. Com o aumento da telemedicina, das cirurgias robóticas e de outras tecnologias, o que antes era uma relação baseada em interações presenciais e na confiança construída ao longo do tempo, agora está sendo mediado por telas e algoritmos.

São mudanças que requerem adaptações entre médicos e pacientes. Mesmo com tecnologias avançadas, a comunicação e a empatia continuarão como componentes centrais do atendimento. Os médicos precisarão desenvolver habilidades para compreender e responder às necessidades dos pacientes, mesmo em um cenário cada vez mais digitalizado.

Assim como os engenheiros 4.0, os médicos do futuro precisarão ser profissionais multidisciplinares, capazes de integrar tecnologia e humanização em sua prática diária, garantindo que, mesmo em um mundo cada vez mais digital, a essência do cuidado médico – o bem-estar do paciente – permaneça intacta.

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