Por Alexandre Baratella Lugli e Evandro César Vilas Boas, especialistas em automação e cibersegurança, respectivamente, e professores do Instituto Nacional de Telecomunicações - Inatel.
O Carnaval é um evento cultural de grande magnitude, no qual a conectividade e a engenharia desempenham um papel essencial para a organização e a experiência do público. A aplicação de tecnologias avançadas, como redes 5G privativas, automação de alegorias e inteligência artificial (IA), tem transformado a forma como o evento é transmitido e gerido.
Redes 5G privativas e a evolução na transmissão
O uso de redes 5G privativas no Carnaval tem proporcionado avanços significativos na captação e transmissão das imagens. A Rede Globo, por exemplo, implementou essa tecnologia para ampliar a mobilidade e a flexibilidade das câmeras, eliminando a necessidade de cabeamento e permitindo uma cobertura mais dinâmica dos desfiles.
A infraestrutura de rede privada 5G possibilita maior eficiência na distribuição do sinal e evita o uso de redes públicas, onde há concorrência de recursos com alto número de dispositivos conectados simultaneamente no evento.
Além disso, a conectividade 5G melhora a interação do público com aplicativos e plataformas digitais que oferecem informações em tempo real sobre os desfiles, como mapas interativos, programação e até mesmo realidade aumentada para enriquecer a experiência dos espectadores.
No passado, a emissora chegou a utilizar as redes 5G em fatias, o que não permitia a transmissão de forma tão integrada como está acontecendo neste ano. A experiência da rede privativa oferece novas oportunidades de alcance e inovação no que diz respeito à transmissão de imagens.
Carros alegóricos: automação e engenharia aplicadas
A modernização dos carros alegóricos tem sido influenciada pela implementação de diversos sistemas, que vão desde o controle de movimentação até iluminação e efeitos mecânicos, e essas modificações já podem ser notadas nas avenidas. A utilização de sensores e atuadores permite um sincronismo mais preciso entre os elementos visuais e sonoros, melhorando tanto o impacto estético quanto a segurança operacional durante os desfiles.
Em 2010, a Portela, por exemplo, trouxe inovação para sua águia, símbolo da escola de samba, ao equipá-la com motores, dando mobilidade para a ave. Esse tipo de tecnologia proporciona maior precisão nos efeitos visuais, além de minimizar riscos de falhas técnicas durante as apresentações. Em 2020, a Rosas de Ouro levou a tecnologia como tema para seu samba enredo, aplicando na prática a Indústria 4.0 no Carnaval com um carro alegórico virtual na avenida.
Tecnologias emergentes: drones, IA e segurança
O uso de drones na cobertura aérea do evento tem ampliado as possibilidades de captação de imagens, oferecendo novos ângulos e perspectivas. Essas aeronaves não tripuladas também auxiliam na segurança, monitorando aglomerações e fornecendo dados em tempo real para os centros de controle operacional.
Sistemas de inteligência artificial vêm sendo empregados para o monitoramento da segurança. As câmeras dotadas de reconhecimento facial permitem a identificação rápida de suspeitos em meio à multidão, contribuindo para a eficiência das operações de policiamento. Outra inovação é a implementação de cães-robôs equipados com sensores para transmissão de imagens em tempo real, auxiliando na vigilância e patrulhamento de áreas estratégicas, como na cidade de São Paulo.
De acordo com a Associação Brasileira de Segurança Eletrônica (Abese), o uso dessas tecnologias pode reduzir os incidentes em eventos de grande porte, demonstrando sua relevância para a segurança pública.
Smartphone seguro?
As operadoras também estão atentas à segurança de seus clientes. A TIM, por exemplo, desenvolveu uma solução para garantir a segurança dos foliões no Carnaval, com um dispositivo simples e eficaz: um broche conectado ao celular. A tecnologia utilizada para garantir a segurança dos foliões no Carnaval é baseada em uma rede de área pessoal (PAN), que conecta o celular ao dispositivo de segurança de forma simples e eficiente.
Esse tipo de rede permite a comunicação sem fio entre os dois aparelhos, sem a necessidade de conexão à internet, garantindo maior estabilidade e rapidez na transmissão de dados. Caso o celular se distancie do dispositivo, a conexão Bluetooth é perdida, ativando um bloqueio imediato no aparelho e emitindo um alerta sonoro.
Essa abordagem torna possível a proteção do celular em tempo real, mesmo em ambientes movimentados, como o Carnaval. Além da praticidade, o sistema baseado em uma PAN oferece a vantagem de ser mais independente das redes externas, funcionando perfeitamente em locais onde a cobertura de sinal pode ser limitada. A tecnologia garante que, mesmo em meio ao tumulto e à folia, a segurança do celular do usuário seja prioridade, proporcionando uma resposta rápida e eficaz diante de um possível furto ou perda de conexão.
Perspectivas futuras para a tecnologia no Carnaval
O avanço contínuo das inovações tecnológicas tende a consolidar o Carnaval como um evento cada vez mais conectado e automatizado. A evolução das redes de comunicação, combinada com novas aplicações de inteligência artificial e automação, abre espaço para aprimoramentos na infraestrutura e na experiência do público, elevando ainda mais a grandiosidade da festividade.
Com a popularização das futuras redes 6G nos próximos anos, espera-se que a conectividade atinja um novo patamar, permitindo interações imersivas por meio de realidade aumentada e virtual. Além disso, a integração entre Internet das Coisas (IoT) e big data poderá otimizar ainda mais a gestão de grandes eventos, garantindo uma organização mais eficiente e sustentável.
A tecnologia continuará sendo um elemento transformador no Carnaval, impulsionando a criatividade, a inovação e a segurança, tornando a festa um verdadeiro espetáculo de engenharia e conectividade.