Após quase 40 anos com um único curso de engenharia, chegava a hora de investir em uma nova área que despontava no mercado
O Instituto Nacional de Telecomunicações mantém este nome icônico devido à sua reconhecida expertise inicial em engenharia de telecomunicações, que foi o primeiro curso da área no Brasil, responsável por fornecer os profissionais que levantaram toda a infraestrutura essencial de comunicações para o desenvolvimento do país. Foram 39 anos com uma única graduação, por isso, por muito tempo, ao se falar em Inatel, lembrava-se de Telecom, mas em 2004 essa realidade começava a mudar com a chegada da Engenharia de Computação.
A portaria 1.593, de autorização do curso, foi publicada no dia 31 de maio daquele ano, no Diário Oficial da União, pouco antes do quadragésimo aniversário da Instituição e sua chegada estaria diretamente conectada à unidade de negócios, o Inatel Competence Center. Desde 1994, o Inatel já fornecia desenvolvimento de software para o mercado, nas parcerias com várias empresas, o volume de trabalhos para o segmento crescia e já dominava os serviços oferecidos na época. “A decisão por solicitar um segundo curso, especificamente de engenharia de computação, foi motivada pela grande experiência de trabalho nessa área.
O curso de engenharia de software não existia na época no Brasil, isso surgiu muito tempo depois” recorda o Professor Guilherme Marcondes, vice-diretor do Inatel. “Eu fui professor das primeiras turmas, trabalhava no Inatel Competence Center e algumas horas por semana ministrava aulas para graduação, quando em 2010 aproximadamente, assumi como coordenador do curso”.
O ex-coordenador por mais tempo no cargo, lembra que o começo da Engenharia de Computação enfrentou algumas dificuldades. “Os alunos de computação chegaram em um curso novo, na época ainda não tínhamos formado a primeira turma, então não havia a tradição de Telecom com quase 40 anos de existência. Mas os alunos foram buscando formas de interagir e de sobressair. Por exemplo, o que temos hoje como semana temática foi uma iniciativa dos alunos de Computação no diretório acadêmico, especificamente, o Renzo e o Filipe.
O primeiro coordenador foi o Prof. Júlio César Tibúrcio, que em entrevista para o lançamento do curso afirmou que a Engenharia da Computação do Inatel nascia já atrelada a uma estrutura voltada para o desenvolvimento de software de alta qualidade e a projetos de sistemas computacionais. “Havia também um grande entusiasmo por parte de toda a comunidade do Inatel, no sentido de trabalhar em equipe para que o curso alcançasse grande sucesso” previu o ex-coordenador. E assim aconteceu! A tímida Engenharia de Computação abriu caminho no Inatel, conquistou seu espaço e hoje trata-se de um dos cursos de graduação mais procurados no Instituto.
As carreiras nos segmentos computacionais ganharam o mercado e a educação superior diferenciada do Inatel, voltada à formação completa do aluno, que sai com diploma e experiência após cinco anos de faculdade, passou a atrair cada vez mais candidatos. O prof. Rodrigo Guaracy foi coordenador da computação dezembro de 2006 a novembro de 2010 e lembra que seus anos à frente do curso foram desafiadores. “Apesar de assumir a coordenação no meio do curso, a primeira turma era bastante exigente e não tínhamos todo o corpo docente definido. Fizemos vários concursos para a contratação de docentes. Tivemos que solucionar problemas que aparecem, como em qualquer lançamento de curso” rememora.
O ex-coordenador ainda recorda que havia um certo distanciamento das primeiras turmas de computação em relação aos alunos de Telecom. “Como os currículos eram bem diferentes, as duas turmas não faziam aulas juntas, o que prejudicou o entrosamento inicial. Tivemos que trabalhar bastante para mudar os currículos e fazer com que as duas turmas tivessem aulas juntas. Isso resolveu o problema do isolamento” ressalta o professor.
Hoje, todas as engenharias oferecidas pelo Inatel compartilham o mesmo currículo base nos períodos iniciais, que se diferencia no meio da faculdade conforme a especialidade escolhida. Além disso, o reconhecimento do Ministério da Educação, que se tornou corriqueiro para qualquer curso ser lançado, estava em estágio inicial naquela época. “Nunca havíamos passado por uma avaliação do MEC aqui no Inatel, foi um trabalho árduo, mas conseguimos reconhecer o curso, que até hoje alcança notas excelentes em todas as avaliações” conta Guaracy.
O curso de Bacharel em Engenharia da Computação foi oferecido a partir do segundo semestre de 2004, com modelo acadêmico preparado para que o engenheiro atuasse em todas as áreas em que processos computacionais tivessem grande relevância. Como afirmou o diretor do Inatel daquela gestão, professor Wander Wilson Chaves, foi um marco para a instituição. “Computação e Telecomunicações conjugadas trariam avanços no ensino, pesquisa e extensão do Instituto e desenvolvimento para a região” comemorou o diretor daqueles tempos.
Um dos muitos casos de sucesso entre os ex-alunos destas duas décadas de curso é o Prof. Renzo Mesquita, que muito batalhou para destacar e mostrar ao mercado que Inatel não era apenas Telecomunicações. Junto com mais um colega, eles criaram a primeira semana temática do Inatel e atualmente todos os cursos possuem seus próprios eventos na mesma linha. Uma invenção dos alunos que se consolidou com tradição na Instituição. “Eu e um amigo, o Felipe Simões Miranda, criamos a primeira Semana da Computação que seria uma excelente oportunidade de trazer profissionais das áreas e ex-alunos para compartilharem experiências reais, do mercado de trabalho com as novas gerações.
A Semana Temática surgiu dessa necessidade de trazer assuntos e vivências para aumentar ainda mais a bagagem dos alunos” reforça. O Prof. Renzo Mesquita é o atual coordenador da Computação, foi aluno da segunda turma e assistiu o amadurecimento não somente do curso, mas de toda a Instituição para o recebimento de novas engenharias. O coordenador confirma que apesar de novo, o curso do Inatel já vinha carregado com muita qualidade e, nestes 20 anos, a evolução das semanas temáticas foi impressionante. “Pudemos testemunhar essa tradição se realizando em maratonas de programação, hackathons de diferentes finalidades, tudo para agregar na formação dos estudantes”.
Hoje o Inatel oferece sete diferentes engenharias e ao implementá-las sempre mantém a postura visionária, como ocorreu há vinte anos, pois já havia maior digitalização e virtualização no mundo e nos próprios sistemas de telecomunicações. Havia uma conjuntura de mercado favorável, com uma demanda por profissionais de computação e software. “O curso de engenharia de computação sempre equilibrou a eletrônica e a programação, mais recentemente identificamos uma demanda ainda maior para o desenvolvimento de software. Por isso, em 2019, abrimos a engenharia de software, considerada irmã mais nova da engenharia de computação e que também chegou em boa hora, porque a nova geração já é muito ligada aos aplicativos em um mercado cada vez mais virtualizado e digital” destaca o Prof. Renzo Mesquita.
Para o atual coordenador dos dois cursos, a engenharia de computação tem uma visão mais ampla, tanto a nível eletrônico quanto no desenvolvimento de software. “Os dois cursos são carros-chefes do Instituto atualmente e estão em alta sinergia com o que o mercado pede” enfatiza.
Neste mercado em ascensão, a chegada definitiva dos jogos eletrônicos como entretenimento de maior rentabilidade no mundo foi um dos aspectos que beneficiou o crescimento da engenharia de computação. “O game está muito associado à computação e o jovem, ao desejar aprender sobre games, aprende a fazer software e computação. São questões certamente consideradas na procura do curso pelos alunos” esclarece o Prof. Guilherme.
Ainda sobre os games, o vice-diretor recorda da criação do laboratório específico da área. “O Game Lab surgiu porque os alunos que gostavam muito de games queriam um espaço e criamos um local bem pequeno” brinca Guilherme. Porém o pequeno espaço se profissionalizou, foi batizado de Coders, Developers and Gamers (CDG Hub), ganhou ares de arena gamer e está entre os mais procurados por estudantes de todos os cursos, com um time de e-sports oficial, iniciação científica, projetos e estágios próprios, onde os jogadores treinam e também estudam.
Claro, também houve períodos incertos na existência do curso, como a pandemia, sem dúvida destacada nessas duas décadas como decisiva na manutenção não somente da Computação, mas de toda a instituição, “manter o ânimo e engajamento de alunos e profissionais foi um grande desafio, mas superamos e estamos aqui prontos para o futuro” anima-se o vice-diretor, Prof. Guilherme Marcondes.
Falando em futuro, é unânime que o conhecimento sobre Inteligência Artificial deve dominar, influenciar e direcionar muito dos esforços para os próximos avanços da tecnologia e, consequentemente das engenharias. “No mundo da computação, já ouço profissionais que atuam na área comentando que a forma de trabalhar, principalmente o desenvolvimento de software, já é diferente com a inteligência artificial. Ela é uma ferramenta importante, mas pode desestimular as pessoas a desenvolverem habilidades. Imagine que ao criar um código que dá erro, há alguns anos era preciso investigar o que tinha acontecido. Hoje, o programador coloca o código na ferramenta de inteligência artificial e pergunta o que está errado. Isso aumenta muito a produtividade, porém podem-se perder habilidades que são importantes. Citei apenas um exemplo, mas serão desafios que teremos que enfrentar, não só na área de computação”.
Sem dúvidas os desafios sempre aparecerão e, para isso, o Inatel vem preparando os engenheiros focados em soluções, para enfrentarem e criarem novas realidades das quais ainda nem podemos imaginar.