Países com grande extensão territorial enfrentam, em sua maioria, dificuldades para prover conectividade em todas as regiões. Pesquisadores, no entanto, já vêm analisando alternativas que podem reduzir essas desigualdades. O Brasil é um caso interessante que vem demonstrando novas e possíveis soluções que podem ser colocadas em prática em diferentes locais, como no caso do continente africano. Recentemente, em visita institucional, o Inatel conseguiu demonstrar a viabilidade de uma tecnologia em parceria com a Universidade de Wits, na África do Sul.
Durante a missão, o professor e pesquisador do Centro de Competência Embrapii Inatel em Redes 5G e 6G – xGMobile, Luiz Augusto Pereira, compartilhou os experimentos desenvolvidos no Inatel com a equipe do centro africano. Por lá, o professor apresentou as pesquisas relacionadas ao Centro de Referência em Radiocomunicações (CRR). Uma delas é o desenvolvimento do transceptor 5G: uma estrutura de rádio completamente flexível. “Eles podem desenvolver pesquisas em cima dessa interface, fazer as modificações que acharem necessárias com o sistema de comunicações ópticas no espaço livre”, explica o professor.
As pesquisas desenvolvidas na Universidade de Wits se complementam com as iniciativas em andamento no Inatel. A missão buscou unir comunicação wireless e óptica com o objetivo de formar um sistema híbrido que utiliza TV White Spaces (TVWS) e Free Space Optics (FSO), tecnologia em uso na universidade sul-africana. Na prática, a união dos dois recursos traz benefícios para áreas remotas e regiões de difícil acesso, onde a infraestrutura de fibra óptica é limitada ou inviável. “É preciso instalar de um lado o transmissor, do outro lado o receptor. Com isso, você tem um sistema comunicando com os benefícios da fibra óptica, mas sem usar fibra óptica”, completa Luiz.
Durante os testes, os pesquisadores conseguiram criar um enlace de 800 metros com o uso de espelhos e sistemas de controle remoto. A demonstração confirmou o potencial da tecnologia para aplicações em rodovias, fazendas e locais com limitações geográficas ou econômicas para a instalação de redes convencionais. “Ela está diretamente alinhada com os objetivos de prover conectividade em rodovias, em locais de difícil acesso, em fazendas. Uma das premissas do 6G é a comunicação ubíqua: ter conectividade onde quer que você esteja no planeta”, afirma o pesquisador.
Para o prof. Mitchell Cox, do Laboratório de Comunicação Optica da Universidade de Wits, a parceria entre ambas instituições é positiva e traz inúmeros benefícios tanto para o Brasil, quanto para a África do Sul. “Há vários anos que desenvolvemos um dispositivo de comunicação óptica sem fios de baixo custo e longo alcance, no contexto da redução da exclusão digital na África do Sul. Este projeto com a Inatel é uma nova direção empolgante para o nosso sistema e um caso de uso valioso que não havíamos considerado, usando a tecnologia de TV White Spaces”, comenta.
Cooperação técnico-científica
Além da demonstração técnica, a missão também teve como objetivo estreitar os laços entre as instituições. A parceria com a Universidade de Wits surgiu a partir da identificação de interesses em comum entre os centros de pesquisa e deve resultar em novos projetos científicos. Entre eles, está o desenvolvimento de novos conteúdos científicos para posterior publicação, além da realização de testes de campo com o sistema híbrido em ambientes reais, como zonas rurais.
“Poder atuar juntamente com a WITS em uma solução de integração do nosso rádio TVWS com um sistema FSO de baixo custo é algo extremamente recompensador, pois abrimos novas portas para a distribuição de sinais TVWS em aplicações ainda mais inovadoras”, aponta o coordenador do xGMobile, prof. Luciano Mendes. Agora, a equipe segue para a evolução do protótipo, “de modo que o desempenho do enlace óptico se mantenha constante mesmo sobre influência de ventos, dilatação térmica ou outra fonte de desalinhamento entre os transmissores e receptores ópticos”, finaliza.
A aproximação pode abrir ainda mais possibilidades para cooperação acadêmica e o intercâmbio de estudantes e pesquisadores. A expectativa é que o uso combinado das tecnologias avance com o apoio de inteligência artificial, aplicada para otimizar o desempenho das transmissões em diferentes cenários.